Que triste é ver os jovens... tristes; há muitíssimos

26-11-2010 12:29

Comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap., sobre a liturgia do próximo domingo

Publicamos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap.-- pregador da Casa Pontifícia -- sobre a liturgia do próximo domingo, XIII do tempo comum.

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Talitá kum, menina, levanta-te!

XIII Domingo do tempo comum (B)
Sabedoria 1, 13-15-2, 23-35; 2 Coríntios 8,7.9. 13-15; Marcos 5, 21-43

A passagem do Evangelho deste domingo está cheia de cenas que se sucedem rapidamente em lugares diferentes. Está, antes de tudo, a cena às margens do lago. Jesus está rodeado de uma grande multidão quando um homem se joga aos seus pés e lhe dirige uma súplica: «Minha filha está a ponto de morrer; vem, impõe tuas mãos sobre ela, para que se salve e viva». Jesus deixa seu discurso pela metade e se põe em caminho com o homem até a sua casa.

A segunda cena acontece no caminho. Uma mulher que sofria hemorragias se aproxima de Jesus às escondidas para tocar seu manto, e se sente curada. Enquanto Jesus falava com ela, da casa de Jairo chegam a dizer-lhe: «Tua filha morreu. Para que incomodar o Mestre?». Jesus, que ouviu tudo, diz ao chefe da sinagoga: «Não temas, somente tem fé».

E eis aqui a cena crucial, na casa de Jairo: grande confusão, gente que chora e grita, como é compreensível ante o falecimento recém ocorrido de uma adolescente. «Entra e lhes diz: “Por que vos desesperais e chorais? A menina não morreu; está dormindo”. [...] Ele, depois de mandar todos para fora, toma consigo o pai da menina, sua mãe e os seus, e entra onde estava a menina. E tomando a mão da menina, lhe diz: “Talita kum”, que quer dizer: “Menina, levanta-te”. A menina se levantou ao instante e se pôs a andar, tinha doze anos. [...]. E lhes insistiu muito em que ninguém o soubesse; e lhes disse que lhe dessem de comer».

A passagem do Evangelho sugere uma observação. Volta-se a discutir continuamente sobre o grau de historicidade e fiabildiade dos Evangelhos. Assistimos recentemente ao intento de pôr no mesmo nível, como se tivessem a mesma autoridade, os quatro evangelhos canônicos e os evangelhos apócrifos dos séculos II-III.

Mas esta tentativa é simplesmente absurda e demonstra também boa dose de má fé. Os evangelhos apócrifos, sobretudo os de origem gnóstica, foram escritos várias gerações depois por pessoas que haviam perdido todo contato com os fatos e que, além disso, não se preocupavam nem minimamente por fazer história, mas só por colocar nos lábios de Cristo os ensinamentos próprios da escola delas. Os evangelhos canônicos, ao contrário, foram escritos por testemunhas oculares dos fatos ou por pessoas que haviam estado em contato com as testemunhas oculares. Marcos, de quem lemos este ano o Evangelho, esteve em estreita relação com o Apóstolo Pedro, de quem refere muitos episódios que o tiveram como protagonista.

A passagem deste domingo nos oferece um exemplo desse caráter histórico dos Evangelhos. O nítido retrato de Jairo e seu pedido angustiado de ajuda, o episódio da mulher que encontra a caminho de sua casa, a atitude céptica dos mensageiros para com Jesus, a tenacidade de Cristo, o clima das pessoas que choram pela menina morta, o mandato de Jesus referido na língua original aramaica, a comovedora solicitude de Jesus de que se dê algo de comer à menina ressuscitada. Tudo faz pensar em um relato que remete a uma testemunha ocular do fato.

Agora, uma breve aplicação do Evangelho do domingo à vida. Não existe só a morte do corpo, também está a morte do coração. A morte do coração existe quando se vive na angústia, no desânimo ou em uma tristeza crônica. As palavras de Jesus: Talitá kum, menina, levanta-te! Não se dirigem portanto só a rapazes e moças mortos, mas também a crianças que vivem.

Que triste é ver os jovens... tristes. E há muitíssimos ao nosso redor. A tristeza, o pessimismo, o desejo de não viver, são sempre coisas más, mas quando se vêem ou se ouvem jovens expressar isso, o fato oprime o coração ainda mais.

Neste sentido, Jesus continua ressuscitando também hoje a meninas e meninos mortos. Ele o faz com sua palavra e também enviando-lhes seus discípulos, que, em Seu nome e com Seu mesmo amor, repetem aos jovens de hoje aquele grito Seu: Talitá kum: menina, levanta-te! Volta a viver.

Fonte: ZENIT