O perigo de criar justificativas para a loucura de Wellington

13-04-2011 07:27

 O que aconteceu em Realengo é fruto de uma mente insana

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Erich Vallim Vicente

A medida que o massacre na escola municipal Tasso de Silveira, de Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, vai se desdobrando na investigação da Polícia Civil, nas pautas levantadas pela mídia em geral e nas medidas tomadas por governo federal e Congresso Nacional, o choque pela morte de 12 crianças, de forma cruel e covarde, vai se transformando em vontade coletiva para entender toda a complexidade que leva um rapaz de 23 anos a chegar num ponto de tanta calamidade psicológica.

Na segunda-feira, 11, à noite, o Jornal Nacional requentou algumas informações apresentadas um dia antes, no Fantástico, as quais tentam estabelecer um perfil de Wellington Menezes de Oliveira. Numa extensa reportagem, o telejornal apresentado pelo casal William Bonner e Fátima Bernardes – o de maior audiência do País – apresentou as supostas relações que o assassino teria na internet, e as quais teriam motivado o seu crime. O computador pessoal de Wellington virou o foco das investigações, onde a polícia pediu a quebra do sigilo de dados à Microsoft, empresa responsável pelo MSN, por onde Wellington mantinha seus diálogos.

A descrição do assassino faz, de forma direta, relação com terroristas islâmicos – em que, segundo a chamada do JN, ele tinha fixação – e exibe uma foto do rapaz “com barba comprida e olhar fixo”, como salienta o repórter Eduardo Tchao. Em trechos de manuscritos deixados por Wellington, há referências a um “suposto grupo”, e o atirador relata sua rotina de orações e reflexões, “ao meio-dia e outras cinco”, além de “ler o Alcorão (livro sagrado do Islamismo), mas não direto do livro, e sim de rascunhos que ele próprio transcreveu”. Cita, ainda, relações com um tal “Abdul” e outro rapaz chamado “Philiph”, que, segundo a polícia, podem ser, apenas, fruto da imaginação do assassino da escola municipal de Realengo.

Em outros documentos encontrados na casa de Wellington, ele relata abusos sofridos em sua infância – uma espécie de “justificativa” para os crimes que cometeria nos dias seguintes – e diz frequentar cultos das Testemunhas de Jeová.

Ao envolver denominações religiosas – Testemunhas de Jeová e Islamismo –, há uma tentativa natural de buscar as razões pelas quais Wellington teria se influenciado para fazer o que fez. Porém, existe nesta tentativa o perigo de testemunhas de Jeová e islâmicos sofrerem preconceitos por algo, evidente, que não lhes compete, já que qualquer pessoa em sã consciência não aprovaria o que Wellington fez. É preciso traçar o perfil de Wellington, e divulgá-lo, mas é sempre bom tomar um cuidado enorme para não misturar alhos com bugalhos.

O crime de Wellington não tem justificativa. Pode, apenas, haver explicações. Que deverão servir para a sociedade, de forma geral, refletir e buscar mecanismos para identificar casos de loucura e demência antes que seja tarde, como neste caso. O que aconteceu na quinta-feira passada em Realengo é fruto de uma mente insana que buscou motivos torpes para matar suas vítimas indefesas e inocentes. Lembra muito o Coringa, vilão do Batman, interpretado por Heath Ledger em ‘Cavaleiro das Trevas’: um doente mental, insano e que tentava justificar seus crimes ao lamber cicatrizes de sua boca, sobre as quais nem ele próprio sabia explicar.