O jovem diante do sofrimento
- Cercada de anúncios e outdoors por todos os lados, a juventude de hoje acostuma-se a, cada vez mais, ser a principal vítima e fonte de lucro da mídia e da publicidade. Com as ondas que vem e vão em alta velocidade, os jovens se deixam tragar pelas supostas maravilhas que os anúncios apresentam, sem a responsabilidade de informar os efeitos que eles lhes trazem. Nessa dependência, vêem-se forçados, sob pena de serem excluídos das rodas e dos grupos, a aceitá-las e abrem mão dos valores que deveriam nortear as suas vidas. Valores esses que lhes permitiriam viver, de maneira autêntica, alicerçados sob uma sadia personalidade e inspirados por uma sincera liberdade. Por não abrirem mão dessa obediência cega ao que é pregado pelos meios de comunicação, afastam-se de Deus e da missão que Ele lhes confia e que é fonte de felicidade eterna. Um exemplo disso é a massacrante luta travada pelo mundo, atualmente, contra aquilo que é uma das marcas principais da vida humana – o sofrimento. Com base em uma ideologia em que o ritmo da vida é ditado pelo prazer com que ela deve ser vivida, nasce no coração das pessoas um medo incontrolável de abraçar as dores e as cruzes do cotidiano. Como lhes é ensinado que o sofrimento é prejudicial e deve ser evitado a todo custo, cria-se uma legião de jovens marcada pelo relativismo e pela imaturidade, destreinados a vivenciar um dos mais belos dons trazidos pelo Espírito Santo: a fortaleza diante da dor.
Santa Teresinha, em um de seus escritos, nos diz: “Entretanto, se na infância sofri com tristeza, já não é assim de sofro agora. É na alegria e na paz. Sou verdadeiramente feliz de sofrer”. Parece loucura afirmar hoje que é melhor sofrer com alegria no coração. Na mente dos jovens, aprece até antinatural. No entanto, o sofrimento é um dos mais eficazes meios de autocrescimento disponibilizados por Deus para nos socorrer. Abraçar com fé a dor que é imposta pelos revezes da vida deve ser, para os jovens cristãos, sinal de desafio e profunda felicidade, pois é por meio dela que a personalidade vai se moldando na maneira bela e santa. E também é por ela que nós nos unimos cada vez mais a Deus. O Papa João Paulo II nos diz, na carta Salvifici Doloris, que o sofrimento “é algo tão profundo como o homem, precisamente porque manifesta a seu modo aquela profundidade que é própria do homem, e, a seu modo, a supera. O sofrimento parece pertencer à transcendência do homem; é um daqueles pontos em que o homem está, em certo sentido, ‘destinado’ a superar-se a si mesmo; e é chamado misteriosamente a fazê-lo”. Trata-se de um verdade incontestável – o homem encontra, no sofrimento, a chave mestra para entender a sua missão enquanto filho de Deus e encontra as respostas que lhe permitem superar as dificuldades próprias da sua humanidade ferida.
Certas igrejas protestantes usam o slogan “Pare de sofrer” como forma de arrebanhar fiéis e garantir-lhes uma via fácil (e falsa) de felicidade. E o que é pior: utilizam-se dessa mentira usando o nome de Jesus. Ora, foi o próprio Cristo que abraçou livremente a cruz, como caminho autêntico de salvação e obediência a Deus, alertando para a necessidade de Seu sacrifício como oferenda agradável a Deus: “O Filho do homem deve ser entregue nas mãos dos homens. Matá-lo-ão, mas ao terceiro dia ressuscitará (Mt 17, 21-22). São Paulo nos diz, então, que o amor ao sofrimento é a forma ideal de nos unirmos a Cristo e a seu projeto de amor: “Com efeito, à medida que em nós crescem os sofrimentos de Cristo, crescem também por Cristo as nossas consolações. Se, pois, somos atribulados, é para vossa consolação e salvação. Se somos consolados, é para vossa consolação e salvação. Se somos consolados, é para vossa consolação, a qual se efetua em vós pela paciência em tolerar os sofrimentos que nós mesmos suportamos”.
Dessa forma, suportar o sofrimento pela via do sacrifício não é, de forma nenhuma, sinal de radicalismo, falsa piedade ou masoquismo; pelo contrário, amá-lo e aceitá-lo como um bem é a maneira mais eficaz de superá-lo, a fim de que seja um meio para nos obter a salvação de Deus. Esse recado é válido para os jovens, sempre tão ávidos a viver os instantes da mocidade da maneira mais intensa possível, para que não fiquem estacionados na imaturidade e na fragilidade diante dos desafios da vida. Vivendo a juventude no materialismo e na busca dos prazeres, fugindo da sabedoria escondida na dor que é trazida pela realidade que o rodeia e pelos desafios que lhe são impostos, eles dão o primeiro passo rumo à autodestruição de suas personalidades e do seu caminho de salvação.
A nossa humanidade é marcada pelo pecado, trazido como herança pelos nossos primeiros pais e só derrotado pelo sacrifício de Cristo na Cruz. Da mesma forma, na nossa vida, o pecado só é aniquilado para dar lugar à vida de santidade em Deus quando nos predispomos a aceitar a dor que nos vem através dele. A partir daí, a redenção em Deus nos vem pela oferta da nossa vida como oferenda agradável à Trindade. A dor, aqui, não é um mal necessário, mas condição para uma perfeita purificação e salvação. Ainda na Salvifici Doloris, João Paulo II nos fala que “a salvação significa libertação do mal; e por isso mesmo está em relação íntima com o problema do sofrimento. Segundo as palavras dirigidas a Nicodemos (cf. Jo 3, 16), Deus dá o seu filho ao ‘mundo’ para libertar o homem do mal, que traz em si a definitiva e absoluta perspectiva do sofrimento”. E termina dando um autêntico conceito de sofrimento: “verdadeiramente sobrenatural e, ao mesmo tempo, humano; é sobrenatural, porque se radica no mistério divino da Redenção do mundo; e é também profundamente humano, porque nele o homem se aceita a si mesmo, com a sua própria humanidade, com a própria dignidade e a própria missão”.
O jovem de hoje, que vive perdido em busca do caminho verdadeiro da felicidade deve entender, então, que ela não se encontra somente no bem-estar pregado pelo consumismo e pela mídia, mas, principalmente, na sábia aceitação da dor, que é desafio e fonte de intensa riqueza espiritual.
Fonte: Revista Shalom Maná