O alcoolismo e a família, o que fazer?
O alcoolismo é uma doença que afeta não só a pessoa que consome bebidas alcoólicas. Os membros da sua família, as pessoas mais próximas, são particularmente atingidos no plano afetivo e no seu cotidiano, sentindo-se tão desamparados como o alcoolista.
A dependência atinge toda a família, divide-a e isola-a do resto do mundo. Os sentimentos, os pensamentos e os comportamentos de cada membro da família são dirigidos para o consumo de bebidas alcoólicas pelo familiar dependente.
O alcoolismo é, portanto, mais que um problema individual, na medida em que atinge a família no seu conjunto, podendo ser considerada uma “doença familiar”, uma vez que o sofrimento é do todo e não só do dependente.
A doença só afeta a família a partir do momento em que começam a surgir os problemas paralelos do alcoolismo como acidentes de trânsito, violência, perda de emprego, decadência social, financeira e moral e a co-dependência, isto é, a família se torna dependente do álcool. É uma dependência neurótica, uma doença que provoca sofrimento e inúmeros desajustes.
Quando esse momento chega a integração e as atividades da família passam a depender do comportamento do dependente químico. Isso ocorre porque as pessoas em volta tentam controlar a quantidade, freqüência e a forma com o que o usuário bebe. Na maioria das vezes e situação se torna catastrófica e a família deve se conscientizar e pedir ajuda psicológica e médica.
Tomar uma atitude como a de procurar um tratamento para um membro da família é sempre algo difícil de acontecer. Existe um grande preconceito ou vergonha de assumir que possui um familiar alcoolista e essa resistência só é sobreposta quando a situação fica insustentável e a família totalmente desestruturada.
“A gente vai passando a mão na cabeça, tem medo de assumir que uma pessoa tão próxima é um alcoolista. Isso se deve ao fato da bebida ser permitida e o “bêbado” ser visto como um vagabundo pela maioria das pessoas”, comenta Inês Ramos, que ficou casada por 20 anos com um dependente químico e quando já não tinha mais forças internou o marido.
“A gente vai se adaptando ao uso da pessoa. Paramos de ir festas, pois senão a pessoa vai dar vexame”, finaliza.
Existem inúmeros alcoolistas espalhados pelo mundo, mas, em sua grande maioria, a família não sabe como agir na situação. Psicólogos instruem as famílias a procurar ajuda de profissionais competentes, mas sabem que isso é a última coisa que os familiares fazem.
“Primeiro eles procuram ajudas com amigos, sempre dizendo que se trata de outra pessoa. Dificilmente procuram uma clínica logo de cara”, explica Sônia Paes Breda, psicóloga do Grupo Viva.
A família deve ser a primeira a fazer o alerta e procurar ajuda o mais rápido possível. No princípio pode ser difícil, mas é necessário um acompanhamento profissional para que a casa se torne um “lar alcoólico ou disfuncional”, onde promessas são freqüentemente esquecidas, celebrações canceladas e o humor dos pais geralmente imprevisível, ou seja, a falta de harmonia está na mesa e alegria de um lar fica perdida no tempo. Procure ajuda, essa é a melhor saída.
A ingestão de bebidas alcoólicas provoca diversas ações em todo o organismo. Existem problemáticas relacionadas ao sangue, coração, cérebro, boca, faringe, esôfago, garganta, estômago, intestinos, fígado, pâncreas, laringe, brônquios, pulmões, órgãos dos sentidos como vista e ouvidos, órgãos secretores da urina, os rins.
Um alcoolismo de longa duração afeta o cérebro, o fígado, o coração e o pâncreas; aumenta o risco de cancro, e atinge também o sistema imunológico: as defesas orgânicas diminuem, tornando o indivíduo vulnerável a doenças graves.
O álcool é seguramente a droga mais relacionada ao uso abusivo. Apesar dos inúmeros trabalhos de pesquisa que comprovam os malefícios que produz à saúde, ainda persiste o mito que "alguns goles" não são significativos em relação à diminuição do desempenho psicomotor na realização de certas atividades.
É um depressor das atividades do sistema nervoso central. É uma droga lícita que tem efeitos dependentes da dose consumida.
Existe o consenso de que a ingestão de álcool antes de executar tarefas que exigem da coordenação motora resulta em desempenhos ruins e risco aumentado de perda de controle sobre a atividade realizada.
Isto é válido mesmo que a pessoa se sinta bem e que aparentemente esteja normal em seu comportamento.
O álcool tem efeito direto sobre a transmissão e condução nervosa. Ele tem ação inibitória sobre a transmissão nervosa funcionando como um narcótico. Parece claro que o desempenho motor está prejudicado em função dos seus efeitos depressores sobre a atividade do sistema nervoso central e dos nervos periféricos que carregam sinais nervosos aos músculos resultando em movimento.
Ou seja, pelo retardo na condução do estimulo nervoso que ele provoca em o todo o sistema nervoso há um prejuízo na realização de tarefas que exijam da psicomotricidade.
O sangue tem a função de nutrir o corpo, ele leva, através dos vasos até os tecidos a maioria dos elementos necessários para a reconstituição do órgão. O sangue é formado por milhões de hemácias (glóbulos vermelhos) e o álcool, em excesso, altera esses glóbulos, com isso o sangue deixa de nutrir ou nutre com deficiência os tecidos da maioria dos órgãos.
A parte do corpo que recebe mais sangue é o cérebro e, por isso, é a região onde ele apresenta o maior grau de nocividade. A droga mais usada por toda a população mundial afeta a química do cérebro, deformando os níveis de neurotransmissores, que são mensageiros que transmitem sinais, pra todo o corpo, controlando o pensamento, emoções e o comportamento do indivíduo. Os neurotransmissores são excitatórios (glutamato) quando estimulam a atividade elétrica do cérebro e inibitórios (GABA), quando a reduzem.
O álcool potencializa a ação inibidora do GABA, responsável pela fala enrolada e pelos movimentos lentos, e inibe a ação excitatória do Glutamato deixando a pessoa relaxada e calma. Além dessas alterações a bebida alcoólica eleva a quantidade de dopamina no Sistema Nervoso Central, o que cria as sensações de prazer.
O abuso do álcool, com o decorrer dos anos, vai causando inúmeros desgastes na saúde. O álcool é um tóxico para o organismo, destruindo células. Grandes doses, bebidas durante um longo período de tempo podem danificar a maior parte dos órgãos vitais. A dependência instala-se de modo lento e insidioso. Ela pode, mesmo antes de ser reconhecida, ter já causado inúmeros danos, e até provocar em alguns casos, a morte.
Todo o dia é relatado que vidas são destruídas e que há acidentes e mortes que resultaram do abuso do álcool e de outras drogas que afetam o desempenho do ser humano. As informações disponíveis sobre as alterações relacionados ao uso do álcool devem ser informadas a todas as pessoas para que eles possam construir seus sistemas de valores individuais.
Uma pergunta que não se cala é o porquê dos estudantes universitários abusarem do álcool. Mil respostas são encontradas, mas a mais simples e que explica algumas coisas é: Porque podem, porque é normal e permitido, muitas vezes até bonito.
As faculdades são cercadas de bares, sejam eles barzinhos ou botecos, mas o intuito é sempre atingir o público mais acessível: os universitários que, em sua grande maioria bebem por qualquer motivo. No “trote” que os calouros recebem quando iniciam um curso na faculdade as principais “brincadeiras” são “regadas” a álcool. Quem não cumprir tal prova tem que beber, quem cumprir também.
Essas situações ocorrem porque é fácil beber e enquanto houver poucas conseqüências imediatas para o fato de beber excessivamente, enquanto a lei permitir, enquanto os estudantes não estiverem informados sobre as conseqüências negativas do abuso abusivo de álcool, enquanto houver poucas atividades sociais e recreativas sem a presença do álcool que são atrativas aos estudantes, esse consumo em excesso continuará existindo.
Os universitários apresentam padrões típicos de uso de bebidas alcoólicas e fatores de risco, relacionados ao beber exageradamente, que diferem da população geral, por exemplo, as normas sociais e comportamentais específicas. Em função disso, é necessário compreender as variáveis que podem estar associadas a este preocupante fenômeno.
Influências sócio-ambientais podem favorecer o consumo excessivo de álcool entre universitários em maior ou menor grau. Por exemplo, uma situação na qual o álcool é amplamente disponível e oferecido ativamente é, obviamente, mais favorecedora do que em um ambiente no qual a oferta não acontece desta forma.
O uso de álcool entre universitários também pode ser favorecido de forma indireta. Estudantes são influenciados mutuamente em termos de beber pela imitação, modelo (todo mundo bebe) ou do comportamento ao beber.
O grupo de colegas, a escolha do tipo de substância, o padrão de uso e a forma como o consumo de substâncias também fazem parte deste processo.
O comportamento ao beber pode servir para justificar os comportamentos extremados observados entre eles.
O indivíduo pode perceber e interpretar o padrão de beber dos outros como um exemplo para o seu próprio comportamento e, então, passar a se comportar de acordo com esta percepção. Uma pessoa popular bebe bastante, então o outro também vai querer beber.
Foi-se o tempo em a faculdade era lugar para acadêmicos, atualmente, a maioria vê o local onde estudam muitas vezes, com o dinheiro dos pais como um local pra tomar cerveja com a turma.
A parte do lazer sempre existiu e sempre deve existir, mas o fator prejudicial é que estamos melhorando a qualidade de ensino, mas os alunos, não generalizando, estão cada vez menos interessados no aprendizado.
Faculdade virou ponto de bebidas e outras drogas, passarela de desfiles, menos um local para se trabalhar o conhecimento.
Uma das faces mais dramáticas do impacto do crack sobre a demanda por internações psiquiátricas no Estado se encontra em uma ala do São Pedro destinada a crianças.
Ali, dos 10 leitos reservados para pacientes de até 12 anos, a metade costuma ser ocupada por pequenas vítimas das pedras.
- Estamos perdendo uma geração para o crack. O crescimento no número de casos é assustador - surpreende-se o psiquiatra Alceu Gomes, diretor-técnico interino da instituição.
Na ala destinada a adolescentes, a situação é ainda mais grave. De outros 10 leitos garantidos para jovens entre 13 e 17 anos, nove invariavelmente recebem garotos com a saúde e o futuro comprometidos pelo vício. Esse fenômeno demonstra a mutação no perfil dos usuários da droga que vem se processando no Rio Grande do Sul.
Se até poucos anos os dependentes eram jovens pobres, hoje as pedras atingem vítimas com idade cada vez menor e classes sociais mais diferenciadas. Uma das razões para o salto vertiginoso do tóxico entre os gaúchos é a dependência quase imediata provocada pela substância.
- Em três ou quatro semanas, o usuário já adquiriu uma dependência grave - afirma Gomes.
Não há dados estatísticos recentes, mas um estudo realizado com as cidades de mais de 200 mil habitantes pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) demonstrou que, entre 2001 e 2005, a proporção de usuário mais do que dobrou na Região Sul - passando de 0,5% para 1,1% da população. Se esse índice for aplicado somente sobre a população gaúcha com mais de 12 anos, já significaria um público-alvo do crack de 72 mil pessoas.
- Antigamente, uma pessoa podia levar 20, 30 anos para se tornar um alcoolista. Hoje, o crack acabou com isso. É imediato, o que é um desafio muito maior para a rede de atendimento - compara o diretor-geral do São Pedro, Luiz Carlos Illafont Coronel.
Postado por: Bruno Souza Nogueira , em 08/12/2009
Artigo nº: 265 Categoria: Drogas