CF 2011: meio ambiente e agricultura
A Campanha da Fraternidade deste ano traz, para reflexão dos fiéis da Igreja Católica e de toda a sociedade, tema amplo e complexo intimamente relacionado com a vida dos seres humanos no planeta. “Fraternidade e a vida no planeta”, eis o tema. E o lema é retirado de um trecho da Bíblia: “A criação geme em dores de parto” (Rm 8,22).
A amplitude e abrangência do tema podem dificultar o objetivo mais próximo e direto da CF de provocar mudanças de comportamento, numa linha de reduzir as agressões que os aglomerados humanos provocam ao meio ambiente, para possibilitar a recuperação do necessário equilíbrio ecológico. É claro que quando se fala em vida no planeta, múltiplas e infinitamente numerosas são as dimensões envolvidas em razão da multiplicidade cultural das populações que habitam a face da terra e impossível seria a CF atingir essa dimensão global.
Mas aí é que se aplicam os conceitos utilizados por projeto de origem universal e lançado em nossa cidade há alguns anos atrás com o nome de Pira 21: “Pensar globalmente, agir localmente”. Traduzindo em termos práticos, significa estarmos preocupados com o equilíbrio ecológico do planeta e estabelecermos metas práticas e exeqüíveis para serem alcançadas no próprio ambiente em que vivemos, ao nosso redor. Em linguagem popular seria: “Se cada um fizer a sua parte, o todo será alcançado”.
Assim, essa proposta do “agir localmente” adéqua-se perfeitamente à linha da CF deste ano, permitindo que uma infinidade de medidas práticas possam ser adotadas pela população, principalmente na mudança de comportamento para a preservação dos recursos naturais colocados ao dispor dos seres humanos.
E muitas dessas medidas estão agregadas ao comportamento pessoal ou familiar e sua viabilidade pode ser imediata, gerando resultados que, integrados ao comportamento coletivo, poderão provocar sensíveis mudanças para a melhoria do meio ambiente.
Mas o aspecto que desejamos abordar neste artigo diz respeito a um comportamento que desde os primórdios da humanidade, o ser humano vem adotando para garantir sobrevivência: o manejo da terra para a produção dos alimentos. Numa avaliação histórica é fácil constatar as grandes mudanças que ocorreram, principalmente nas últimas décadas, na forma como a natureza tem sido destratada nesse aspecto.
No que diz respeito à nossa região, ainda guardo com muito respeito os preceitos com que os mais antigos (meus avós, entre eles), protagonistas da chamada agricultura familiar, procuravam preservar a natureza. Quando criança, costumava passar as férias escolares no sítio de meu avô Raimundo Storel, no bairro de Dois Córregos. Com 40 alqueires, cortado pelos dois riachos que davam nome ao bairro, possuía engenho e moinho de milho tocado pela roda d’água acionada pelos riachos em que eu pescava com peneira em busca dos deliciosos lambaris. No meio do sítio, um enorme capão de mata com variada fauna silvestre e nascentes de água, onde meu avô não permitia nem caça, nem derrubada de árvores. Ao lado da mata, as nascentes formavam um belíssimo tanque com espécimes diversos de pequenos peixes. Até ao lado do tanque chegavam os trilhos da Usina Monte Alegre que deixava ali seus vagões para que os fornecedores carregassem a sua cana, plantada apenas em parte das terras. A prioridade era a cultura dos alimentos necessários à família como feijão, arroz, milho, mandioca, batata, algodão, a grande horta cortada pelo riacho, a criação de galinhas, porcos, vacas de leite, enfim, tudo era produzido ali mesmo.
Mas os tempos atuais são outros e o agronegócio sustentado na indústria canavieira tomou conta de tudo, com plantações que mais parecem um “mar de cana” cobrindo já quase todo o estado e parte do país, trazendo consigo os malefícios das queimadas, dos agrotóxicos, da devastação das matas, sem nenhum respeito à natureza, apenas com a obsessão de se ganhar muito dinheiro com o uso da terra. Desapareceram os ribeirões que formavam os afluentes do rio Piracicaba espalhados por toda a zona rural. A fauna silvestre migrou para a cidade e a maravilha com que a natureza premiou nossa cidade virou um rio de enxurradas, volumoso e invadindo as margens quando as chuvas são intensas e seco e cheio de pedras quando elas cessam. Será que a CF nos motiva a mudar isso?
Antonio Oswaldo Storel é presidente da Pasca e coordenador de CNLB – Diocese de Piracicaba.