A Piedade Mariana

08-10-2010 10:15

 
» Mariologia
A PIEDADE MARIANA

APARIÇÕES

         Têm-se multiplicado, no Brasil e no estrangeiro, fenômenos de aparições atribuídas à Virgem SSma, as opiniões se acham divididas a respeito.

 

OS FATOS

         Século XVI, começa com mais freqüência o fenômeno “aparições”. Em 1531 em Guadalupe a Virgem Ssma terá aparecido ao índio Juan Diego; em 1858 em Lourdes (França) a Sta. Bernadete Soubirous; em 1917 em Fátima (Portugal) a três pequenos pastores. No Brasil 1717 a imagem de NS Aparecida é encontrada no Rio Paraíba por três pescadores. Em 1960: Erechim, RS, Nossa Senhora da Santa Cruz estaria se manifestando a Dona Dorotéia. 1967-1977: Nossa Senhora da Natividade teria aparecido ao Dr. Fausto Faria, em Natividade (RJ). Após 1988 até nossos dias numerosos são os casos que vão sendo registrados. Fora do Brasil, o historiador Yves Chiron contou no século XX até 1993 um total de 362 aparições de Nossa Senhora. Sobre a grande maioria destas a Igreja não se pronunciou.

 

O PROCEDIMENTO DA IGREJA

O INQUÉRITO

         A Igreja crê na possibilidade de aparições do Senhor e de seus Santos. Assim como para São Paulo, na estrada para Damasco (At 9,3-9). São Pedro teve uma visão antes de ir à casa do centurião Cornélio (At 10,9-11). S. Estevão, antes de morrer, viu a glória de Deus e Jesus à direita do Pai (At 7,55s). Todavia, antes de se pronunciar a respeito de alguma aparição, a Igreja é cautelosa:

1.    Verifica-se que, da parte dos(as) videntes, há debilidade mental, fantasia exuberante, desonestidade, charlatanismo ou manifestação de psiquismo exaltado (laudo negativo);

2.    Laudo positivo no plano espiritual e físico (conversões, afervoramento, curas de doenças e outros benefícios...). Em tais casos, a Igreja não somente permite, mas favorece o culto ao Senhor ou ao (à) Santos(a) que se julga ter aparecido. La Salette, NS de Lourdes, de Fátima... Embora a Igreja favoreça o culto a Nossa Senhora em tal lugar, ela nunca diz, nem dirá, que a Virgem SSma apareceu; o fenômeno “aparição” não pode ser definido pela Igreja como verdade de fé. A revelação pública e de fé está encerrada com a geração dos Apóstolos; nenhum artigo pode ser acrescentado ao Credo (Dei Verbum, 4).

A dispensação da graça cristã, como aliança nova e definitiva, jamais passará, e já não há que esperar alguma nova revelação pública antes da gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo (1Tm 6,14 e Tt 2,13). O Papa Bento XIV (1740-1758) publicou as seguintes observações: “a dita ‘aprovação’ da Igreja não ´senão uma permissão; atesta que os fenômenos alegados não estão em desacordo com a fé, os costumes e a missão da Igreja. Não pedem adesão de fé divina ou católica, mas pode suscitar a fé humana”.

3.    Pode também a Igreja abster-se. É o que acontece na maioria dos casos. Em consideração desses frutos, a Igreja deixa que a piedade se desenvolva até haver razões de ordem doutrinária ou moral que exijam algum pronunciamento.

Quando não incorrem erro no tocante à fé ou à Moral, os fenômenos extraordinários têm alto potencial evangelizador, que merece respeito e não pode ser deixado de lado. Aos pastores compete, de um lado, confirmar os irmãos na fé, e, de outro lado, ajudar os fiéis a superar a demasiada credulidade, para que esta não venha a ser um fator de descrédito da própria mensagem cristã.

 

SÁBIAS PONDERAÇÕES

Verifica-se que várias das mensagens atribuídas a Nossa Senhora em nossos dias são marcadas por forte pessimismo. Descrevem a situação do mundo atual em termos apocalípticos: o demônio estaria solto, a a corrupção generalizada, os castigos de Deus seriam iminentes, implicando catástrofes de âmbito mundial, condenação dos pecadores e salvação para os justos. Sobre este pano de fundo pedem-se oração e penitência.

 

a.    O mundo está vivendo uma situação de crise generalizada;

b.    O pessimismo e o desespero;

c.    O Brasil é muito sacudido por correntes que dizem receber comunicações do além;

d.    Muitas pessoas se deixam levar pelo sentimentalismo e as emoções;

e.    Muita gente quer ser dirigida; espera um guru ou um líder privilegiado. Consciente disto, a Igreja usa sempre de grande cautela desde que  se propague a notícia de algum fenômeno extraordinário.

 

PRUDÊNCIA

         Eis alguns traços:

a.    A Igreja, de um lado, se sente responsável pela conservação incólume da doutrina da fé, de acordo com o mandato de Jesus Cristo (Mt 16,16-19; Lc 22,31s; Mt 28,18-20). Doutro lado, ela sabe que o Espírito Santo pode falar por vias extraordinárias, de tal modo que não lhe é lícito extinguir o Espírito, como diz S. Paulo em 1Ts 5,19s;

b.    O extraordinário deve ficar sendo sempre extraordinário. Não é via normal pela qual Deus guia os seus filhos; o normal é a via da fé..., fé que se distingue de crendice, pois a fé supõe credenciais ou motivos para crer; a fé não diz Sim a qualquer notícia de portento;

c.    Aparições e revelações não devem ser presumidas nem admitidas em primeira instância num juízo precipitado. Procurem-se, antes do mais, as explicações ordinárias ou naturais (físicas, psicológicas ou parapsicológicas). É preciso levar em conta a fragilidade humana, sujeita a engano, alucinações, sugestões coletivas. Daí o senso crítico, que deve começar por investigar aquilo de que realmente se trata, para depois procurar a explicação adequada. Leve-se em conta especialmente a tendência dos meios de comunicação social a provocar artificialmente as emoções e o sensacionalismo, sem compromisso sério com a verdade;

d.    Toda autêntica aparição há de ser coerente com as linhas e o espírito do Evangelho. Deve confirmar o que este ensina:

·         As muitas minúcias (quanto a datas, local, duração e tipo de fenômenos preditos) merecem reservas, pois não há habituais na linguagem da Escritura Sagrada;

·         O que certamente se pode e deve depreender de toda a genuína mensagem do céu, é a exortação à oração e à penitência; La Salette, Lordes e Fátima clamam altamente por tais atitudes a ser assumidas pelos fiéis católicos. O Papa João XXIII em comemoração ao centenário de Lourdes nos fala que os dons extraordinários são concedidos aos fiéis: “não para propor doutrinas novas, mas para guiar a nossa conduta”.

 
fonte da notícia: ISCR - Inst. Sup. Ciencias Rel (anotações).