Camelôs vendem "pílula do aborto" à luz do dia no Centro de Piracicaba

11-02-2012 08:43

 

Polícia Federal investiga o caso e acredita que a droga vem do Paraguai.
Medicamento é vendido no camelódromo por até R$ 250.

 

Lana Torres e Edijan Del SantoDo G1 Piracicaba e Região

 

 No Centro de Piracicaba, no interior de São Paulo, vendedores ambulantes comercializam pílulas abortivas dentro do camelódromo, espaço administrado pela prefeitura. O G1 negociou o remédio sem dificuldades, à luz do dia, por até R$ 250 cada dois comprimidos. A compra criminosa não foi concretizada pela reportagem. A Polícia Federal informou nesta quinta-feira (9) que a droga vem do Paraguai.

Uma pergunta em tom discreto feita a funcionários de três bancas diferentes foi o suficiente para constatar a prática criminosa no local. Um primeiro camelô indica uma segunda banca, que aponta para uma terceira, onde a vendedora garante que consegue o medicamento com uma colega que distribui a droga dentro do camelódromo.

“O pessoal aqui não vai vender para vocês de jeito nenhum. Como a gente vai saber que vocês não são da polícia? Eu já fui presa três vezes e não quero ser de novo não”, responde de início. Mas com o estender da conversa, a mulher que se identifica como Camila garante que, por R$ 250, entrega a droga e até conta que já fez o negócio outras vezes.

“Uma vez vendemos para uma menina. Ela passou mal e foi parar no hospital. A menina chegou lá e entregou que tinha comprado aqui. Dá o maior problema”, disse.

Camelódromo de Piracicaba (Foto: Lana Torres)Na banca de roupas e acessórios, a vendedora 
pede R$ 250 pelo remédio (Foto: Lana Torres)

Aspirina
Polícia Federal informou que tem três inquéritos em andamento sobre a venda deste tipo de produto da Delegacia Regional da PF em Piracicaba. Um deles é do comércio da droga em Piracicaba, outro em Americana e um terceiro na cidade de Araras. Para o delegado Florisvaldo Emílio das Neves, 90% da droga ofertada na região vem do vizinho Paraguai.

“Qualquer Zé Mané compra este remédio lá, como se fosse aspirina. Então eles trazem para cá, onde infelizmente há quem compre. As pessoas que foram detidas nas últimas apreensões serão indiciadas e a pena é maior que a de tráfico de droga”, explica.

Neves explica que a pena pela prática deste crime vai de 10 a 15 anos de prisão e multa. A polícia informou, ainda, que sempre que houver apreensões no local vai acionar a prefeitura, que é a responsável pela concessão de uso dos camelôs no local.

Prefeitura
O comandante da Guarda Municipal de Piracicaba, responsável pela fiscalização do Executivo no camelódromo, Silas Romualdo, disse que a GM tem equipes de guardas fiscais diariamente no local e que uma vez por mês é feita uma operação em busca de materiais ilegais.

“Só fizemos uma apreensão. Mas com esta sua informação, muda que agora vamos procurar por este produto específico quando estivermos lá”, disse Romualdo. O comandante garantiu também que a prefeitura abre um processo de cassação da concessão do vendedor detido com qualquer tipo de produto ilegal.

Uma vez vendemos para uma menina, ela passou mal, foi parar no hospital"
Comerciante

Risco à saúde
A ingestão desse tipo de medicamento pode causar até a morte, segundo o médico obstetra José Rogério Nicola, que trabalha em um hospital particular da cidade e, apesar de não ter atendido nenhum paciente com este quadro, soube pelos colegas de casos semelhantes em Piracicaba.

Nicola explica que o princípio ativo do medicamento, o misoprostol, é liberado para o uso hospitalar no tratamento de úlceras no estômago. “No hospital, a gente controla a dosagem e faz acompanhamento do paciente. Mas a forma como usam pode evoluir para um quadro de choque séptico, parada cardíaca e até a morte”, alerta o médico.

O medicamento, segundo o especialista, causa contrações uterinas, que desencadeiam na expulsão do feto do corpo da mulher.

fonte: https://g1.globo.com